sábado, 2 de abril de 2011

Da série: ler para dizer

"Um pássaro cantou um solo na vizinhança,
um melro talentoso numa sebe escura dando
graças na sua própria língua.
Ouvi e concordei com ele plenamente."

O'BRIEN, Flann. O terceiro tira. Tradução de Luis Fernando Brandão. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2006. P.155.

Leitura recomendável para deixar tudo menos árido com a sua insólita narrativa.

domingo, 27 de março de 2011

Nosso plano de fuga

Mapeando o teto tracei um plano. Um plano para que você, para que eu, para que nós pudéssemos nos encontrar sempre, sempre...sem olhos julgadores, sem pressa, sem trabalho, sem escola. Descobriremos, tenho certeza, a maravilha do deitar, do olhar, do gostar sem vergonha, de nos entregar com volúpia.

Eu e você no Baudelaire.
Você e eu no Leminski.

Baixinho, só pra gente escutar.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Dialogando...

O enterrado vivo

É sempre no passado aquele orgasmo,
é sempre no presente aquele duplo,
é sempre no futuro aquele pânico.

É sempre no meu peito aquela garra.
É sempre no meu tédio aquele aceno.
É sempre no meu sono aquela guerra.

É sempre no meu trato o amplo distrato.
Sempre na minha firma a antiga fúria.
Sempre no mesmo engano o outro retrato.

É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábios a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.

Sempre no meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência.

ANDRADE, Carlos Drummond de. In: Antologia poética.

É sempre no meu silêncio este barulho contido...